27/11/2008

Se nem Freud explica, eu já fiz o download

Descobri que não preciso mais apelar para o google para entender o que meus sonhos significam. Acordei de madrugada com o relatório completo. No sonho, eu passeava pelo shopping quando vi uma loja onde a mulherada se esbaldava com a infinidade de vestidos longos disponíveis.
Havia para todos os gostos, formas e tamanhos. Lembro da alegria que eu senti na hora e de ter pensado: “Se tem pra todo mundo, deve ter um pra mim também!”.
Entrei na loja e me dirigi a uma daquelas vendedoras com sorriso de plástico. Disse o tamanho, que queria que fosse bem longo, até o pé, lembro que até apontei a canela pra evitar problemas de interpretação (ainda mais comuns no verão, quando elas acham que qualquer coisa com todas as cores do arco-íris e alguns poucos centímetros, já é o máximo – mesmo que lembre a capa do liquidificador da casa da sua avó).
Ela foi procurar no estoque. Voltou logo em seguida com três blusinhas de alça feitas de linha (quem me conhece sabe que eu tenho pavor a essas coisas com cara de “feirinha de Itaipava”, me perdoem os hippies, mas não dá!) duas mini saias em tom pastel (justo duas coisas que eu odeio: coisas mini e tons pastéis) e só pra não dizer que não tinha entendido, um único vestido: na altura do joelho e mostarda (será que existe algum ser vivente que fica bem nessa cor?).
Pra completar a desgraça, nada combinava com nada. Se quisesse sair dali já estreando alguma coisa, teria que escolher: ou saía com a bunda coberta e os peitos de fora ou tampava a comissão de frente e exibia a minha calcinha para a multidão.
Eu, meio que decepcionada, irritada, ainda decidindo se mandava ela enfiar toda a cafonalha naquele lugar, respirei fundo e perguntei: “Mas e todos aqueles vestidos que as outras saíram daqui alegres e saltitantes carregando?”. Ela, em tom entre o debochado e o arrogante, respondeu: “Ah, mas para encontrar um daqueles, eu teria que procurar melhor, levaria muito tempo. Aqueles que estão na prateleira de baixo e também nas araras, ao alcance da sua mão, nenhum deles serviria de verdade para você”.
Acordei no meio da noite, assustada e suada. Talvez com pavor de acabar me vendo enfiada em alguma roupinha riponga, em tom pastel ou algo sufocantemente mini.
Foi então que eu decidi: não quero mais vestir o que não me cai bem. O que destaca minhas partes menos desfavorecidas pela vida, acentua minhas olheiras e me empalidece. Pra quê? Só para tentar resgatar aquela excitação de roupa nova? Melhor não.
Talvez seja por isso que eu vivo revirando o armário, customizando o que já saiu de moda pra que seja “in” novamente ou usando sempre as mesmas dez blusas, mesmo tendo mais de cem.
O que é usado não tem cheiro de loja, mas lembra gostos e aromas revisitados e familiares. A gente sabe exatamente o que fazer com ele e com o que combina. E como diria Isabela Taviani: “A festa acabou, meu vestido puiu”. E se eu estivesse realmente falando de roupas, tudo seria mais simples.

6 comentários:

kleris rocha disse...

:P adorei miga vo ficar fã quero mais textos..mais..sou eu?? do texto
:******

Expressivas Impressões disse...

Bem perspicaz! Se não fosse crônica, pra mim seria um doce! E as duas últimas linhas foram a cereja do bolo!
Beijos, me liga!

Anônimo disse...

Linda Dani...menina...mulher! Pensamentos mil...caraminholas também! Acho que você tem um futuro incrível pela frente, vc sabe disso né! Amei a crônica...um pequeno deleite para quem não tem a alma pequena! Beijos de quem acredita em vc!

Bárbara disse...

"E se eu estivesse realmente falando de roupas, tudo seria mais simples."
Ouch. Doeu em mim, Dani.
Te espero no Rio!!!

Anônimo disse...

Simplesmente adorei...

Textos bem gostosos, que fluem e encantam.
Através deles acredito que vou conhecer um pouquinho mais de vc.
Parabéns!

disse...

E se vc estivesse realmente falando de roupas não teria graça...

Adorei o jeito que escreve!

Parabéns