30/04/2010

A plateia roubou a cena

Então eu tinha um plano. Arquitetado, pensado, analisado, visto, revisto e editado. As convicções estavam em ordem alfabética. As prioridades por ordem de importância. As ansiedades de maneira decrescente. E tudo era organizado e infalível. Já tinha a programação completa para os meses que viriam e quanto aos anos, o organograma estava em fase final.

Aí vem você, de repente, com esse jeito de quem não quer nada e leva tudo. E ainda joga baixo porque minha atenção estava toda no palco. E quando a música entra em cena, nada concorre. Nenhum fator externo é páreo para o encatamento definitivo e de sempre que ela causa. Isso era o que eu achava. Até você me pegar de guarda baixa. Sacanagem.

Mesmo assim achei que estava tudo sob controle. Na melhor das hipóteses, eu tinha conseguido o papo em balada mais interessante desde as festinhas na varanda de casa, que sempre terminavam ao som de Mr. Jones, do Counting Crows. Mas ao contrário dessa, a música que tocava naquela hora eu não sabia cantar. Aí te dei assunto porque você parecia legal. E agora se você não está por perto, tudo fica bem menos.

O som não tem a mesma vibração, o timbre não tem o mesmo brilho. Os versos são só uma composição matematicamente bem feita e não uma confissão musicada que gera olhares cúmplices. Cada dia é uma surpresa. E eu não faço a menor ideia de como será o mês que vem. O próximo ano então, total mistério. Mas nesse caso o não saber tem cara de aventura emocionante e não de surpresa desagradável. Agora seja qual for a trilha sonora, o cara na plateia rouba o show.

16/04/2010

Os ignorantes são mais felizes

Até que ponto é vantajoso estar 100% consciente de tudo que acontece ao redor? Tem horas na vida que dá vontade de dizer: "Favor me beneficiar com a ignorância dos fatos. Grata." Isso nos pouparia de uma série de sincericídios.

A natureza do crime varia. Vai desde um atentado ao seu almoço quando aquela tia sem noção reclama do problema "nas partes baixas" que nunca sara, passa pelo relato do seu pai sobre as aventuras libidinosas dos tempos de solteirice. (E nesse caso fica a dica: Pais e responsáveis, embora saibamos a essa altura que não viemos do alface ou da cegonha, toda e qualquer observação que venha a sugerir que vocês já fizeram/fazem/ou vão fazer sexo, é constrangedora.)

Isso sem falar nas confidências disfarçadas de prova de amor. Não, amigo. Ela não precisa saber que você experimentou todas as mulheres do mundo para então ter certeza que era ela que você queria. Vai ser a primeira parte da frase que ela vai absorver. Não a segunda. O que os ouvidos não ouvem, o coração...você sabe o quê.

Se eu ganhasse 10 reais por cada informação desnecessária que recebi como prova de lealdade, confiança ou "só porque precisava contar pra alguém", estaria escrevendo esse texto de algum lugar bem caro de NY. (E pensando por esse lado, dá até vontade de abrir uma ouvidoria especializada em notícias esdrúxulas.)

Mas, como geralmente esse tipo de coisa está mais para informe gratuito, melhor não fazer planos. O jeito é torcer para que alguma mágica aconteça. Já que não dá para lucrar com isso, queria pelo menos poupar ouvidos, alma e coração. Como diria Cazuza: "Os ignorantes são mais felizes."