14/01/2010

Cuidado com o que estimula, porque você pode conseguir

O título no programa do curso me ganhou de cara. Dizia "Um estímulo à imaginação". Adorei. Uma desculpa perfeita pra eu poder viajar no meu universo paralelo de ideias sem parecer tão maluca. O foco é a poesia, a partir do nascimento do verso livre. Nada de métrica. A regra é não ter regra alguma. "Ok, tudo a ver", eu pensei. Isso até o primeiro dia de aula.

Na sala, vários estilos, formas e tipos de pessoas. Menos o meu. São senhoras beirando os 70, quarentões que aos 20 devem ter sido hippies e gente com 20 pra quem ninguém avisou que o Woodstock foi no século passado. Todos com seu jeito muito particular de ser. De ser esquisito. Então me ocorreu que, se o pré-requisito é ser estranho e eu também estou aqui..."É, garota, você é esquisita", sentenciou a minha consciência. Tá bom, tá bom, eu sou. Mas não tanto quanto ele.

Ele é o cara na minha frente. Faz anotações frenéticas em balõezinhos que se espalham aleatoreamente por uma folha de A3. Cada hora com um de seus 12 lápis de cor cuidadosamente organizados na caixinha. Aposto que ele chega em casa e cola aquilo na parede. A casa toda já deve estar coberta de anotações coloridas, no melhor estilo Oswaldo Montenegro de decoração.

"Deixa de ser maldosa!", repreende a voz que também surge num balãozinho. Dessa vez com um anjinho, tipo desenho animado. "Vai que ele é um puta artista que estava criando um novo estilo, perdeu a hora e saiu com o que estava na mão. Daqui um tempo ele pode estar mais famoso que o Romero Britto. E tudo que vai te restar é pagar caríssimo por uma agenda assinada por ele. Ou no máximo se gabar por ter frequentado a mesma aula que esse gênio. "Ele sentava na minha frente. A gente sempre trocava anotações", é o que você vai dizer.

Depois dessa chamada, me concentro na senhora gentil ao meu lado. Deve ter sido muito bonita quando nova. Cumprido com esmero seu papel de esposa, mãe e avó. Agora parece ter voltado no tempo. Absorve as informações passadas pelo professor com o mesmo entusiamo e brilho nos olhos que eu. (Porque sim, eu estou prestando atenção na aula enquanto devaneio). Ela tem uma sede pelo saber e pelo novo que trouxe lá do começo da vida.

Aliás, pra sede propriamente dita, ela também tem solução. Volta do intervalo, e num ato generoso (que só o tempo pode conferir aos pobres mortais) divide sua garrafa de água gelada comigo. Pronto. Ela me quebrou. Eu ali exercendo todo meu olhar crítico sobre cada um (a princípio na tentativa de encontrar alguém que me soasse familiar, e em seguida só pra criticar mesmo) e lhe ocorreu que eu poderia estar com sede.

Poxa! Estava me divertindo tanto sendo cruel e a senhora estragou a brincadeira! Me sinto como a Fera naquela cena em que a Bela acaricia aquele rosto tenebroso e o desconcerta. Mas não me recrimine vai, assim como a criatura da fábula, eu também tenho salvação. O que mais posso dizer em minha defesa? A culpa é do nome do curso.

2 comentários:

Expressivas Impressões disse...

Ótimo! Essa cachola arranjou a desculpa que precisava para abanar a poeira e espirrar boas ideias na net. Fico feliz de ter sempre acesso as minhocas que brotam nessa cabeça fértil e nômade, que por ora é regada pela garoa de sampa. *Nossa acho que esse curso é poderoso mesmo*

Bean disse...

a imaginaçnao não tem limites e não deve ser censurada jamais! fico muito feliz em √ê-la tão empolgada. basta agora se deixar levar pelos seus devaneios e colher os frutos!!linda! te amo!