01/02/2010

Gigante adormecido

Tinha pelo menos umas duas décadas desde que ele tinha dormido assim, segurando a minha mão. Lá por mil novecentos e os meus dedos em mutirão só alcançavam um terço da mão dele. Seus cabelos ainda nem tinham esse ar de névoa.

Do rosto daquele tempo, restaram os olhos castanhos esverdeados, que ficam ainda mais esverdeados quando ele se emociona. Por acaso, os meus também são assim. Tudo bem, não por acaso. Os olhos são uma das muitas características dele que reconheço em mim. Vieram junto com o nariz bem delineado, os cílios longos, as sobrancelhas imponentes, as pernas longas e como a lei da compensação é um fato, as olheiras.

Entre as coisas que herdei, mas não se pode perceber à primeira vista, estão a teimosia, a paixão pela música e a distração. A mesma que o impede de notar que, embora hoje eu consiga perfeitamente envolver sua mão com a minha, fiz questão de segurá-la à moda antiga: apenas dois dedos. Numa tola tentativa de ser aquela menina de novo. Pequena o bastante para poder ficar ali, a contemplar o gigante que adormece completamente alheio à minha saudade.

3 comentários:

domqueiroz@yahoo.com.br disse...

Muito bom, me derreti como sempre, se chora até com desenho animado imagina. bjs.

daisy disse...

Lindo!!!!um descrição de amor eterno!!!bjcas

Expressivas Impressões disse...

Eu que também ando longe dos meus gigantes sei a falta gigante que eles fazem. Mas aproveite bem o reencontro, porque são poucas as vezes que a gente demonstra a profundidade do que sentimos com a merecida fidelidade aos metros.