27/01/2010

E agora Balzac?

Foi numa terça-feira depois do trabalho. O episódio, que começou como um "momento beleza", acabou desencadeando uma bem menos bela batalha existencial. Estava eu lá, na salinha branca, com maca branca, musiquinha neohippie pra liberar os chacras quando...a esteticista sentenciou: tinha chegado a minha hora.

Não, ela não faz bico de Mãe Dinah nas horas vagas. E a previsão nem era assim tão mórbida, mas pra muitas de nós, também significa ter menos tempo. Foi assim sem dó, que ela mandou: "Acho que você já pode começar a fazer uso de um anti-idade". Informação especializada e dita com delicadeza, mas que pra mim chegou como: "Acho que você já pode começar a rezar porque, daqui em diante minha filha, é ladeira a baixo!"

Na hora (numa reação relâmpago de autopreservação) lembrei que a garota propaganda de um desses produtos era a Penélope Cruz. Legal. Se a Pe também precisa, por que não eu? "Posso usar aquele da Penélope, então?". "Não. Pro seu caso, é melhor começar com a linha a partir dos 30". Lindo isso. Fiz nem 29 ainda e minha pele já furou a fila rumo à decadência.

Só me restava então, sair em busca do famigerado potinho. Lá estava eu, tentando decidir no mar de opções para rugas, fissuras e rachaduras, quando ela apareceu: a atendente da farmácia. Não devia ter mais de 18 anos (e a mãe dela não devia ter pena da garota, porque ela chamava Francislene). Uma afronta ela estar ali pra palpitar na minha crise de meia idade. "Hey pirralha! Quando eu quiser opinião sobre a maquiagem da Hannah Montana, eu te chamo!", foi o que eu pensei.

Juro que pude ver um sorriso debochado no canto daquela boca coberta de gloss purpurinado. Mas eu, obviamente, não estava em condições de franzir a testa pra ela, então ignorei. Até porque, eu estava muito ocupada tentando entender o que aqueles "oxi", "ol" e "geneses" fariam por mim. Depois de muitas reflexões, apanhei o vidrinho eleito com maneirismos de espião.
O caminho até o caixa foi longo. Carregava o vidrinho como quem carrega uma sentença. "Você está envelhecendo", dizia a vozinha na minha cabeça.

E então, num outro relâmpago defensor, lembrei do Honoré de Balzac: "Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido. (...) Entre elas duas há a distância incomensurável que vai do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz tudo, e a jovem, sob pena de não sê-lo, nada pode satisfazer".

É isso aí! Mandou bem, Balza! Mas eu ainda precisava de um elemento mais concreto. Ou vários deles. Foi então que tive a ideia perfeita: lá estavam elas. Coloridas, emborrachadas e de sabores infinitos. Peguei praticamente uma cesta básica delas e cobri meu atestado de velhice. "Tá vendo só Fran?! Tô com um pé na cova mas com tudo em cima! A cutis já teve dias melhores, mas não é por falta disso tá vendo?!". Tudo bem que a senhorinha na fila com seu inocente Vicky Vaporub achou vergonhoso, mas...
Mais vale um "atestado de galinha" na mão, que os pés da dita cuja bem no meio da cara.

4 comentários:

Andinho disse...

Não preciso dizer q sou seu fã! ADORO suas crônicas e seu senso de humor! Um beijo! Dizer q vc escreve bem é chover no molhado.

BEAN disse...

muito booom, uma tragédia pra vc, mas uma comédia pra gente. rsrs

Anônimo disse...

Dan, impressionante o seu talento para comparações absurdas, é como lembrar do maravilhoso desenho "O fantástico mundo de boby"
Uma viagem, aasim como vc...adoro amiga!!!
renatinha

Unknown disse...

Dani, hilário! Haha... concordo com a Renatinha, seu "talento para comparações absurda"s são um must! Sarcástica!!!! bjoka Tha